domingo, 18 de julho de 2010

Do existencialismo



Quando falamos na existência de um Ser Superior, automaticamente pensamos em Deus e na sua definição e caracterização cristã: o pai de toda a criação, que enviou o seu filho ao mundo para fazer um punhado de boas acções e sacrificar-se na cruz pela humanidade, ressuscitando 3 dias depois.

Sinceramente não acredito nestes contos de fadas. Não acredito em Jesus Cristo como descrito na Bíblia, não acredito na Virgem Maria nem acredito na multiplicação dos pães. A minha visão sobre isto é que não passam de metáforas que algum dia uma bem intencionada alma escreveu como forma de transmitir a sua visão de um conto de fadas, tencionando com isto ensinar alguma coisa a quem lhe sucede. O grande problema disto tudo é que remontando aos nossos antepassados, a cultura e a sabedoria não abundavam, eram antes um exclusivo das elites. Como tal, onde há ignorância há facilidade em manipular... E qual seria o interesse da corte e do clero (as elites) em que o povo fosse, de alguma forma, possuidor de conhecimento? Conhecimento esse que, naturalmente, lhes afrontaria como uma ameaça ao seu poder e à sua posição dominadora (tomemos o exemplo da Inquisição)? Pois bem, nenhum. Assim sendo, a religião foi tomando os contornos que lhe conhecemos hoje, relacionando sempre determinado acto de desobediência aos standards como uma punição futura, qual cartão de crédito a cobrar a 60 dias. Se cobiças hoje a mulher do próximo, teu castigo chegará depois da morte. Se roubas hoje, terás lugar no inferno - o tal lugar cheio de dor e mau estar - quando um dia morreres, pois a força divina está em todo o lado, e lê até os pensamentos. Meus amigos, vamos ser francos e aceitar que toda a baboseira que nos ensinam na catequese é nada mais nada menos do que uma maneira de controlar os nossos actos, fazendo-nos acreditar em punição divina, em pecado, insinuando que tudo o que fuja dos standards é inaceitável pela força divina. Sim, vide a homossexualidade, a poligamia, o próprio desejo sexual como puramente carnal! - tudo isto é recriminado, e tudo o que a Igreja quer é um exército a seu mando, unidos em torno de uma crença absolutista que nos leva a nós, pobres robots, a cometer homicídio em massa em honra a esse tão bondoso e pacífico Deus. A Igreja é uma farsa. Era uma farsa no século XXII, continua a ser uma farsa (talvez ainda maior) em pleno século XXI; leva milhares de vidas por ano em pretensas guerras santas, em que afinal de contas ambos defendem a mesma crença apenas com nomes diferentes. O povo é estúpido, continua estúpido, e a sabedoria continua afinal nas elites.

Agora, quanto à existência do ser superior... Eu tenho o meu Deus. Tenho a minha fé. Acredito que existe um ser superior, algo responsável pelo milagre que é a vida, e pela perfeição que exibe a natureza em cada um dos seus actos. Custa-me a acreditar num ecossistema outrora tão perfeito com origem numa causa natural, custa-me a acreditar que máquina tão perfeita como o corpo humano tenha sido gerado de forma fortuita. Acredito em algo superior, bondoso, porque se não o fosse nunca seríamos abençoados com tão perfeita natureza. Também acho que a maldade acaba por ser algo de normal, aliás, acredito muito que 90% das pessoas seriam más se reagissem SEMPRE conforme as suas emoções - isto é, a maldade vive em nós. O egoísmo em particular, é algo de inato em cada um dos seres humanos que vem ao mundo, seja ele em maior ou menor escala. E o egoísmo leva à inveja, leva à cobiça e à ganância. Estas levam o ser humano a praticar actos de maldade sobre o seu próximo, seja esta maldade representada por um tiro na cabeça do abastado pela mão do rôto ou pela manipulação que a Igreja exerce sobre o rebanho que tem bem controlado, mantendo todo o poder e toda a riqueza em sua posse enquanto apregoa o bem, a ajuda ao próximo, a solidariedade - e enquanto o Papa recita o seu discurso ensaiado, morre mais uma centena de crianças com fome em África, morrem mais vinte adultos com SIDA e outros tantos vítimas da guerra santa, promovida pelo fanatismo que estes fantoches incutem desde crianças nas pobres mentes populares. Enquanto estes espantalhos constroem santuários e murais em ouro em Fátima, há um pobre aleijado a morrer de fome mesmo ao lado. Se isto é praticar o amor, se isto é o amor ao semelhante, o que será afinal a hipocrisia e a intolerância? O que é a maldade? Algo natural. Algo que está tão incutido no ser humano que só um verdadeiro acto de construção de uma imagem social pode contrariar. Não digo que o ser humano não tenha compaixão, amor, pena ou coragem em si. Tem, só que é momentâneo. São meros acessos emocionais que por momentos contrariam a nossa mente calculista e egocêntrica. Quem serão afinal os loucos? Os maus ou os benfeitores? Quem está, afinal, realmente fora do rebanho? Quem está a remar na direcção oposta afinal?

Resumindo, todo o mal do mundo não é culpa de Deus. É algo que nasce connosco, apenas é mais extrapolada em alguns do que noutros. Deus não interfere no mundo porque nós construímos o nosso destino. Acredito que temos o destino traçado, que as nossas decisões já estão todas elas tomadas, qual peça teatral. Mas acima de tudo, acredito que nos cabe a nós representar esse papel na perfeição, enquanto o grandalhão lá em cima assiste à peça confortavelmente refastelado no sofá, com um balde de pipocas e uma lata de coca-cola.

1 comentário:

pedromarinho disse...

Bem, nem sei por onde começar. Sabes, eu também não acredito em contos de fadas. Mas como somos tão pequenos e insignificantes neste universo se não tivéssemos o nosso "Deus" o mundo já teria acabado. Porque como tu disseste somos maus por natureza. E também acredito que a complexidade da nossa natureza não é possível se não tivesse ajuda de um ser, maldoso. Sim maldoso pois esse ser podia-nos ter criado mais simples e consequentemente a nossa vida seria melhor.
Continua com o blog, mas para mim é difícil de bater este post. :p